O velho me pergunta que horas são toda hora. Não é porque ele está apressado, não. É que ele se esqueceu de que está usando o relógio.
O velho acha que hoje é amanhã e às vezes que é ontem, anteontem, mas nunca é hoje. É que ele não recebe calendário de graça no fim do ano. Nem boné, nem blusa, nem agenda, nem canetas azuis e amarelas.
O velho aprendeu a chorar. Mas não é feito criança. É que nem gente grande mesmo. Fecha os olhos e parece que tem alguém puxando os cabelos brancos dele. Parece que dói.
O velho dorme o dia inteiro. Ele não tem sono não, é que dormir é uma perda de tempo, e perder tempo é bom. Bom pra lembrar que não há mais tempo a perder.
O velho ainda sonha alto, nas nuvens, mas cai de lá toda vez. E ele tem que ir pro hospital tomar remédio pra todo tipo de ferida.
O velho acha que a menina também cai. Mas ela foi criada só e sabe se manter nas alturas. 1,80m, mais ou menos. É alto o suficiente pra ela.
O velho já foi diferente.
O velho fala e ninguém entende. Ninguém mais acha que o velho é gente.