domingo, 20 de maio de 2012

Chuva

As rugas do velho ficam mais profundas ao acordar de madrugada, olhando pra lua e a noite, tão estrelada! Boa pra turista.
A velha tem sono leve e corre atrás. Arruma um espaço no varandado, longe do marido. Cafanga e cospe no chão. Noite estrelada não é boa coisa no sertão.
O vestido amarelo remendado de algodão volta pra cama, puxa um terço de baixo do travesseiro e reza. Mas no santo reino da telenotícia, nordestino é bicho sem solução. Tem mais é que aprender que essa terra é ruim, é ingrata. Dá toda a felicidade do mundo. Dá todo o amor que quem debandou pras terras de baixo deixa pra trás. E pede, fica mais um pouco! Que amanhã a noite é escura, a nuvem vai cobrir a lua.
E de manhã teu choro vai molhar o chão.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Sem lenço e com documento

Essa semana minha mãe
Mãe minha, mainha
Deixou de comprar farinha
Pr'eu ficar longe dela

Essa semana minha mãe
Mãe minha, mainha
Deu uma de donzela
Deixou pura a panela de arroz com feijão

Mês que vem vai melhorar
Mas quando dá pra piorar
Pede pra São Pedro, que chove no São João
Pede, que isso é vida de cão

Riacho grande, Riacho Fundo
Riacho que prende minhas mãos
Essa menina das perna comprida
Dizem que é de Jacobina
Mas ela diz "não é bem isso não"

Eu sou de Riachão

(music)

Poleiro

Me traz de volta
Coloca meus pés no chão
Me traz de volta
Diz que se importa
Diz que não

Me deixa voar
Livremente, levemente por aí
Me deixa voar
Me deixa cantar o que você não quer ouvir

(music)