quarta-feira, 25 de julho de 2012

Morreu

Cada pedaço de mim que carregava um pouco de você.
Dá pra encontrar tudo ali, entupindo o ralo do banheiro.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ornitorrinco

         Nem venha pensando que eu vou deixar essa vida de inspiração. Agora tenho uma fonte que não seca nunca. Jamais, melhor dizendo, pra agradar teus olhos. Sei que tu gosta dessa palavra. Mas eu não quero sair por aí, espalhando onde foi que eu achei a fonte. Talvez porque não sei, talvez porque não tem porra de fonte nenhuma. Eita, que eu tô com uma boca suja do caralho, não cai bem pra uma moça de família, filha da madame da cidade, neta do coronel mais temido da região e sobrinha do empresário mais bem sucedido do sisal falar uma coisa dessas. É feio demais, gente.
          Pois bem, vou me aquietar com esse negócio. Já pedi a mão do mocinho, já aprendi a fazer acarajé, larguei de assistir curtas no computador. Abri todas as janelas da casa, botei o velho pra fora da cama, falei "vai trabalhar, vagabundo" e saí espalhando fumaça cheirosa pelos corredores pra espantar muriçoca. 
           A vizinha já ohou torto pra mim, a caixa da padaria reparou que uso sete anéis e o padeiro viu o cabelo verde quando virei de costas. Os carros de som abaixam o volume quando passam por mim, senão a promotora manda todo mundo pro xadrez. Ninguém é doido de bulir com a galega de Brasília (porra nenhuma) de um metro e oitenta, contando com o salto do coturno. Essa falsa baiana de Gal, que não faz ninguém gritar "viva a Bahia" quando entra na roda, silencia quando abre a boca pra falar. A voz rouca, grave e forte deixa os neguinhos requebrentos confusos ao dizer

"Coloca um heavy metal que eu quero sambar até o amanhecer."