quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Manhã de domingo

                 Bom dia, doutora. É, tem um tempo que a gente se viu desde a última vez. Meu avô tá bem daquele jeito mesmo, arrumou um doutor por lá. Ah, ele não mora mais aqui, não. Tô só, sim. Claro que eu sinto falta, mas é a vida. Tô fazendo Biologia na federal. É, essa greve vai, não vai, ferra com todo mundo. Tô namorando, sim, claro. Ah, não! Ela não. É uma menina da Agronomia. Tamo bem. Por que que eu.. ah, sim...
                  É, doutora, eles não foram embora. Eu pensei que tinham ido, mas não foram. De vez em quando, eu me esforço para olhar meu rosto no espelho e minha barba começa a crescer e crescer e crescer, vira um monte de serpentes que sibilam no meu ouvido ruim e depois somem. PUF! Do nada. Parecem de verdade mesmo, mas eu sei que essas coisas só acontecem em filme e em cabeça de doido.
                 A mulher? Poxa, ela aparece todo dia também, mas eu não queria que ela fosse embora. Ela é de boa. De vez em quando eu tenho a certeza de que ela é um prolongamento da minha consciência. Faz bem conhecer a minha mente, né?
             E agora tem gente nova aparecendo. Tem um rapaz magrelo de blusa listrada que me pergunta as horas toda vez que passo por ele. Deve ser pra eu não esquecer que o tempo passa. E a gente definha. E os amores morrem. E qualquer dia vão me encontrar afogado no próprio vômito.

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